[Resenha] A Invenção das Asas - Sue Monk Kidd

4 de jun. de 2014
A Invenção das Asas - Sue Monk Kidd
Editora: Paralela
ISBN: 9788565530484
Ano: 2014
Páginas: 328
Classificação: 
Página do livro no Skoob
Em sua terceira obra, Sue Monk Kidd, cujo primeiro livro ficou por mais de cem semanas na lista de mais vendidos do New York Times, conta a história de duas mulheres do século XIX que enfrentam preconceitos da sociedade em busca da liberdade. Sue Monk Kidd apresenta uma obra-prima de esperança, ousadia e busca pela liberdade. Inspirado pela figura histórica de Sarah Grimke, o romance começa no 11º aniversário da menina, quando é presenteada com uma escrava: Hetty “Encrenca” Grimke, que tem apenas dez anos. Acompanhamos a jornada das duas ao longo dos 35 anos seguintes. Ambas desejam uma vida própria e juntas questionam as regras da sociedade em que vivem.
Resenha:
Baseado em contextos históricos reais e tantos outros apenas ficcionais, A Invenção das Asas constrói uma narrativa capaz de deixar qualquer leitor com o coração apertado de início ao fim. É lindo.

A estória é ambientada no século XIX, em uma época onde mulheres eram destinadas apenas a esfera doméstica e não podiam estudar. Os escravos eram pessoas de cor e valiam três quintos de uma pessoa branca. Situaram-se? Pois bem, Sarah Grimké faz parte da elite da Carolina do Sul e, como manda a tradição, aos onze anos recebera de presente uma escrava: Hetty "Encrenca" Grimké. Sarah e Encrenca são nossas protagonistas, e intercalam narrativas durante a trama. Ambas cultivam o mesmo desejo: serem livres. 

Aos quatro anos de idade Sarah presenciara o açoitamento de um escravo, barbarizada desde então, ela sofre de um problema de dicção: ela gagueja em situações onde sente-se vulnerável. Sarah anceia pelo conhecimento, em ser Jurista, e discorda de incontáveis padrões que são seguidos à risca pela sociedade aristocrata a qual pertence. Ela é uma mulher solitária e inadequada para as exigências sociais da época. Ela ensinará Encrenca a ler e cultivará pensamentos de igualdade para com os escravos. Preciso dizer que ela sofre repressões quanto a isso? Sarah passa boa parte da narrativa tentando se encontrar, na dúvida de qual caminho seguir, como agir para mudar a realidade que a sufoca. As amarras que a impossibilitam de ser livre são predominantemente as de sua mente. 

Encrenca sabe decorado os pecados de um escravo: roubar, desobedecer, ter preguiça e fazer barulho. Mas sempre encontra um meio de burlar algum desses, afinal, você se rebela do jeito que pode. Um escravo deve estar sempre pronto para servir e ao ser destinada à Sarah, Encrenca não dormiria mais com sua mãe, Charlotte. Mas no chão, na porta do quarto de sua nova dona. Diante os castigos e desaforos da sinhá, os escravos são levados a acreditar que Deus evita pessoas de cor. E nós, leitores, percebemos que qualquer alegria descrita no enrendo é por instinto de sobrevivência, e não de satisfação. As amarras que impossibilitam Encrenca e Charlotte de serem livres são as do corpo. Pois as amarras de suas mentes não existem, já criaram asas e voaram para longe. Para um lugar seguro.

A estória é dividida em seis partes que separam determinados espaçamentos no tempo em ordem cronológica. Ou seja vamos acompanhar Sarah e Encrenca desde crianças até tornarem-se mulheres. Um crescimento que vai além do corpo. Nenhum problema envolvendo sua voz impedirá Sarah de tornar-se uma das primeiras pensadoras feministas americanas. Ela defenderá não só a voz das mulheres como o abolicionismo dos escravos. É impossível não abraçar suas crenças e torcer por suas vitórias. Como já mencionei, Sarah Grimké foi uma heroina que realmente existiu, e boa parte de tudo que fora retratado no livro de fato aconteceu, obviamente com a liberdade criativa da autora para preencher lacunas e enfeitar determinados aspectos. Ao final do livro temos uma nota enorme da autora com tudo que foi real ou não. É um relato de coragem de encher os olhos.

Não vou afirmar que se trata de uma estória que fará qualquer leitor chorar. O que vou afirmar é o seguinte: é repleto de sentimentalismo e eu chorei. O relacionamento de Charlotte e Encrenca é de uma beleza tão pura, tão humana, toda a rotina de segredos, confissões e esperança que elas constroem durante a trama me fisgou de uma forma inexplicável. É de uma riqueza de detalhes e particularidades envolvendo estórias africanas e retalhos em cochas que nem ousarei explicar. Como se já não bastasse a trajetória de vida da Sarah, a autora nos presenteia com Encrenca, a cereja do bolo, a outra metade da laranja.

Apesar dessa resenha enorme, não mencionei incontáveis aspectos, personagens, acontecimentos e reviravoltas. A Invenção das Asas é apaixonante, tocante e totalmente envolvente.

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